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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O tipo certo de errado




O casal de ex-namorados se reencontram numa galeria de arte, ambos convidados pela própria curadora da exposição. Ela com o atual namorado, ele momentaneamente sozinho. Encabulados pelo encontro inesperado, a conversa tímida começa a se desenrolar após a saída do atual parceiro. A troca dos olhares despretensiosos e sorrisos irônicos da o charme a cena. Algo rouba atenção do ex-casal. É outro casal, porém não convencional.  Ele gordo, grande, calvo e completamente
 desengonçado. Ela por sua totalmente diferente, loira, magra, linda e toda delicada.

A conversa se interrompe quando ambos veem o casal apaixonado se beijando. A mulher atônita com a cena, pergunta se é tão surpreendente assim? E logo completa dizendo – sempre achei tinha algo de muito errado com eles. O cara por sua vez responde – Exatamente, o tipo certo de errado. Olha que resposta genial, fiquei com essa frase na cabeça por alguns dias.

O quer seria exatamente o tipo certo do errado?


Quantas vezes nos relacionamos com alguém pensando que essa pessoa seria a tal escolha certa? Acredito que todas. Ninguém entra em algo se antes verificar suas possíveis alternativas.

Diferente do que se fala por ai, sempre queremos algo maior e melhor do que somos. Em grande parte das vezes recusamos o que nos é semelhante. Temos medo da comparação sonsa, do julgamento alheio.

Desde pequenos queremos aquilo que está longe. Quando nos damos conta do que é gostar de alguém, sempre miramos em alguém distante.  É o típico caso da garota feia que se apaixona pelo badboy, ou do garoto estranho que sonha com a miss da sala. Paixões perdidas...

Quando ficamos mais maduros, vamos percebendo que certas coisas são muito curiosas. Ao longo do tempo, você vai sabendo de quem gosta de você e nem sempre é aquela pessoa que você espera. Você gosta de gostar de quem não gosta de você, e fica puto por que isso acontece.  Não entende porque seu amigo estranho, feio gosta tanto da sua pessoa e aquela pessoa linda de morrer não. 
Mas será que gostamos do outro por sua genuína beleza estética, ou porque vemos alguma possibilidade de aparecer bem na fita com alguém assim? E até que ponto a beleza realmente influencia na nossa escolha? 

Sejamos contundentes, um rosto bonito facilita muito as coisas e todos queremos alguém bem cuidado e tal, mas nem sempre isso basta. Na sociedade do espetáculo, a beleza parecer ser o único atributo a ser levado em consideração. E olha até que ponto chegamos, passamos a gostar de alguém sem ao menos conhecê-la.

Curiosamente, quando vemos algum casal diferente ficamos chocados e sempre nos perguntamos “ela com ele, nossa, que mau gosto, poderia arrumar algo melhor” e mais um monte de frases preconceituosas do naipe.

Quem nunca ouviu alguém dizer isso?

Contudo, falamos ou ouvimos julgamentos desse tipo, e não conseguimos aceitar e muito menos nos damos ao trabalho de entender o que levou tal pessoa a gostar de alguém totalmente diferente dela. A impressão que dá é que estamos tão imersos nos paradigmas atuais que passamos a encarar coisas diferentes como estranhas.  E nesse sentido, acho que agora consigo entender o que ele quis dizer. O tipo certo de errado é isso, nem sempre o que é errado para sociedade ou para outros será errado para gente.

A pessoa certa não necessariamente precisa ser a pessoa mais bonita, a mais rica ou inteligente para fazer a diferença em nossa vida. Enquanto não nos livramos desse paradoxo aterrorizante do que é certo para o que é ideal, jamais saberemos apreciar as oportunidades de errado disfarçadas de certas que rodeiam nossos dias....