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sábado, 19 de julho de 2014

Um gênio se foi... Adeus Rubem Alves!


Hoje a tarde começou um bocado mais triste. Quem conhece ou gostar do autor, sabe do que eu estou falando. Por onde começar quando se o seu escritor preferido foi embora? Tantas palavras ele escreveu, e tantas milhares que poderão defini-lo melhor que estas, mais eu não consigo apenas o digerir o fato, preciso escrever também. Tentarei fazer uma pequena biografia de sua vida e contar algumas curiosidades do autor:



Rubem Alves educador, acadêmico, teólogo, filósofo,  psicanalista, cronista, escritor, poeta, contador de histórias e um exímio provador, como diz Abujarra.

Nasceu no Sul de Minas Gerais em 15 de setembro de 1933, na cidade de Boa Esperança, mesma cidade de do grande pianista Nelson Freire. Sua infância foi muito pobre em Minas, depois de um tempo quando seu pai estava bem em termos financeiros, Rubem se mudou com a família de Minas para o Rio de Janeiro. Ainda na infância sonhou em ser pianista, mas logo percebeu que por mais que estuda-se com afinco não seria pianista. 

Quando foi morar no Rio de Janeiro, passou a frequentar um colégio de elite no qual declarou em documentário que se sentia muito sozinho e abandonado. Segundo seu próprios relatos,  seus novos colegas da escola caçoavam dele por seu sotaque rebuscado caipira de Minas.    

Mais tarde, aos 20 anos ingressou num seminário presbiteriano, e depois de um tempo começou a se questionar sobre os dogmas da religião. Apesar de todas as indagações, Rubem se formou em pastor e foi trabalhar em comunidades carentes em Lavras, Minas Gerais. 

Apesar de ter realizado um trabalho missionário como pastor, Rubem diz que “entregou seus cuidados especiais aos pobres sem jamais tentar convertê-los.” 

Depois de um tempo, o autor diz que “se desencantou com tanta mediocridade  e interferências dos homem na religião”. Numa de suas mais famosas frases ele dizia 

‘’ Deus nos deu asa mas as religiões inventaram as gaiolas. “


Mais tarde, em pleno período de ditadura e golpe militar no Brasil, Rubem Alves foi exilado para o Estados Unidos, onde foi fazer seu mestrado em Nova York.

Logo após quando retornou ao Brasil, Rubem foi acusado e denunciado como subversivo por integrantes da própria igreja presbiteriana do Brasil. Em seu depoimento, Rubem disse que o denunciante foi um de seus melhores amigos. Ele ficou chocado por tal fato, e pela patifaria da igreja e decidiu depois se desligar da instituição. 

Depois disso, Rubem ganhou um bolsa para ir estudar novamente nos Estados Unidos, agora em Princeton,  para realizar o seu doutorado. Para quem não sabe, a sua tese foi precursora da teologia da libertação. 

Novamente de volta ao Brasil, Rubem foi convidado a dar aula numa universidade em Rio Claro interior do estado São Paulo. Logo após isso, Rubem foi convidado pela universidade Unicamp, onde permaneceu por longo anos, sendo inclusive eleito professor emérito pela instituição.
 


  Quando ainda estava na academia, Rubem também ficou conhecido por se tornar um dos maiores críticos da educação brasileira. Mesmo concordando com quase todas as suas críticas, Rubem achava que o professor deveria ter o papel de um provador e não deu um ensinante.


Em uma entrevista para rádio CBN, Rubem dizia que gostaria de criar uma nova categoria de professores, uma categoria que se chamava professores do espanto. Segundo a sua ideia, ele dizia que os gregos se espantavam quando não sabiam de algo, ficavam bestificados querendo saber o porquê, e ele achava que era isso que o professor deveria fazer junto ao seu alunos. Deveria despertar nele essa vontade.

Além de um monte de ideias genais que teve, Rubem também dizia que a escola acima de tudo, deveria ensinar o aluno a ver. Em outras palavras, Rubem dizia o seguinte: 

“ A primeira tarefa da educação é ensinar ver... é através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascino no mundo.”
  
 

Citando outra também, o autor dizia

“ Há muita pessoas de visão perfeita que nada vem”

Mesmo engajado com assuntos relacionados a educação, Rubem sempre dizia que deveríamos ser educados para desenvolver a sensibilidade das coisas. Uma das coisas que sempre enfatizou em suas ideias é o poder da escuta. 

“Amamos não a pessoa que fala bonito, é a pessoa que escuta bonito”


Após longos anos na academia e já meio desiludido também, Rubem teve a surpresa de ter uma filha tardiamente ou como ele dizia “uma filha temporã”, Raquel era seu nome. Segundo o autor comenta, Raquel tinha nascido com um defeito nos lábios e se sentia muito diferente.  Depois com seu nascimento, Rubem rompe com a tradição acadêmica e descobre a literatura e a poesia.

Comovido com o sofrimento da filha, Rubem começou a escrever para colocar beleza no sofrimento da menina. Fato curioso é que Rubem Alves, começou a escrever tardiamente, segundo seus relatos em alguns livros, ele diz que começou a escrever literatura aos 40 anos de idade. 

Desde então sua produção literária não parou mais, chegando a publicar mais de 120 títulos em obras literárias para adultos e também crianças. 

Ganhou inúmeros prêmios e homenagens por sua literatura. Ao longo de suas publicações ganhou também inúmeros admiradores e fãs de seu trabalho literário. Esse que vos fala, é um grande admirado também. Rubem também chegou a escrever crônicas para o jornal Folha de SP. 


Respeitado por ser um dos intelectuais mais provocadores e críticos, Rubem era apaixonado pela poesia, por ipês amarelos, jardins, livros, brinquedos e pelas crianças, e além de tudo isso, Rubem Alves foi um apaixonado pelas pequenas sutilezas da vida. Seu carisma e seu jeito de contar histórias encantava a todos o que o ouviam. Não é atoa que é e foi e será tão admirado.

Já na velhice Rubem sofreu com um câncer e também mal de parkinson. Desde do dia 10 de junho estava interno em Campinas, e hoje dia 17 de julho de 2014, anos 80 anos por meio de sua página oficinal do Facebook recebemos a triste notícia de seu falecimento.
 


Mesmo na velhice e sabendo que sua hora estava chegando, Rubem escreveu vários textos falando sobre a morte. Todos muito tocantes por sinal, mais gostaria de destacar um trecho de um: 

“Para isso caminhamos a vida inteira, para chegar a lugar onde partimos,. E, quando chegamos, é surpresa. É como se nunca tivéssemos visto. Agora ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade. “ 

São tantas coisas bonitas que esse o autor escreveu que fica até difícil escolher. Confesso que fiquei e estou ainda muito triste pela notícia. Gostaria de fazer uma homenagem a altura, para agradecer por tudo o que ele fez. Sua legado e sua obra permaneceram conosco!

Mesmo que nunca tenha o conhecido pessoalmente, sinto como se visses-te parte da minha vida. Em diversas vezes, suas palavras foram um alento que eu tanto necessitava. Seu peculiar jeito de olhar e sentir o mundo e as coisas, foi sempre o que sempre admirei. E gostaria que soube-se que por mais sua carne não esteja conosco, seu pensamento e suas ideias sempre ecoaram vivas para sempre na mente e no coração daqueles que te admiram. Sentiremos saudades!


“Desejo que meus leitores ao lerem meu texto, fiquem com olhos semelhantes aos meus. Assim, eles verão o mundo da forma como eu vejo, e as palavras se tornaram então desnecessárias.”


Adeus querido Rubem Alves!